PRESSURIZAÇÃO DE ESCADAS – LONGO CAMINHO PERCORRIDO
Estou disponibilizando o material que serviu de embasamento técnico para a mais complexa Instrução Técnica (IT) até então do Corpo de Bombeiros de São Paulo na década de 1990, bem como o estudo da JICA (Japan International Cooperation Agency).
Com a minha coordenação e apoio do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), da ABRAVA (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), do Professor Engenheiro Raul Bollinger (meu guru dos cálculos hidráulicos), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Professor Engenheiro Antonio Luis de Campos Mariani), o Engenheiro Silvio Piga (Maker Engenharia), e de diversos profissionais, do qual destaco o sempre secretário e respeitado profissional Engenheiro Carlos Kayano (Thermoplan Engenharia Térmica Ltda.), construímos um texto sólido e que está em uso até o momento (se deixei de citar alguns nomes, aceito comentários para futuras complementações).
Destaque especial não poderia ser outro, ou seja a do Comandante do Corpo de Bombeiros de São Paulo, Coronel PM Luis Roberto Carchedi, que na época confiou no trabalho desenvolvido e assinou a mais complexa Instrução Técnica desenvolvida até aquele momento.
A primeira IT elaborada foi denominada como IT-10, sendo hoje a IT-13, que trata da “Pressurização de escadas de segurança”.
Foi uma grande evolução tecnológica, uma vez que o assunto, naquela época, nunca havia sido estudado em qualquer Corpo de Bombeiros no Brasil. Não quer dizer que os Corpos de Bombeiros do Brasil estão preocupados ou estudando de maneira adequada o tema nos dias atuais mas vale ressaltar o inédito tema, o qual resultou, também, no atual trabalho de elaboração da ABNT NBR de “Controle da movimentação da fumaça em edificações”.
O trabalho de elaboração da citada IT de “Pressurização de escadas de segurança” foi uma resposta aos efeitos nocivos da movimentação da fumaça de incêndios, principal causa de mortes no mundo (cerca de 80% das mortes nos incêndios), principalmente observado por mim em algumas ocorrências que atendi como Oficial do Corpo de Bombeiros de São Paulo.
Minha maior preocupação com o tema “fumaça” iniciou-se depois que atendi uma ocorrência de incêndio em uma cozinha de uma edificação residencial (como “Oficial de Área” – designação dada ao Oficial responsável pelo gerenciamento de todas as ocorrências em determinada área territorial de São Paulo), que se propagou para o interior de uma escada, denominada pela ABNT NBR 9077 como “à prova de fumaça” (escada com antecâmara e com dois dutos – entrada de ar e saída da fumaça).
Eu sempre questionava à época e continuo questionando o porquê dos Corpos de Bombeiros e demais instituições não se preocuparem com o tema, enfatizando somente questões relacionadas com o combate com água (hidrantes e chuveiros automáticos).
Nesse incêndio citado que atendi, observei que a população usuária da edificação residencial verticalizada não abandonou o prédio. Perguntei aos moradores, depois que controlamos o incêndio na cozinha de um dos apartamentos, o porquê de as portas corta-fogo da escada de segurança “à prova de fumaça” estarem abertas, e a conclusão foi única e definitiva: a fumaça do incêndio havia entrado pela antecâmara, sendo que perdeu força de ascensão, retornando para o interior da escada no pavimento imediatamente superior, inundando de fumaça todo o interior da escada, impossibilitando a descida dos habitantes dos andares mais altos, o que era um total absurdo. Os moradores haviam deixado abertas todas as portas corta-fogo dessa escada, “supostamente de segurança”, para que a fumaça fosse removida pelo efeito vento.
Após tais constatações e com base no relatório de estudos (IPT Rel 22482- estudo escadas 1985 ) e testes da JICA (Japan International Cooperation Agency), que já havia comprovado a falência das escadas de segurança adotadas no Brasil, solicitei ao meu comandante a criação do citado grupo de estudos para desenvolver texto com base na própria ABNT NBR 9077 em vigor à época (era o ano de 1996), a qual citava a BS5588-part 4 como referência para a elaboração de projeto e instalação de sistemas de pressurização de escadas de segurança.
Aqui disponibilizo o material de estudo, que se trata de uma tradução da citada BS_5588_PART_4_1978, utilizada à época.
Os leitores e especialistas vão perceber que um dos conceitos de utilização de ante-câmara para a pressurização de escadas foi descartado no texto da IT-10, hoje IT-13, bem como da atual ABNT NBR 14880. Mas isso já é história para outro post.
Sempre em minhas palestras aponto tais escadas como “Escadas Auschwitz”. Depois de muita luta, tenho a satisfação de dizer que tal escada nunca mais fará parte da ABNT NBR 9077, da qual sou colaborador atual de sua revisão.
PS.: O trabalho elaborado pela JICA foi denominado “Avaliação de desempenho, em relação à estanqueidade à fumaça, de diversos tipos de escada para saídas de emergência de edifícios altos utilizados no município de São Paulo” ( IPT Rel 22482- estudo escadas 1985 ).
PESQUISADOR: Prof. Makoto Tsujimoto
Perito enviado pela JICA – Japan International Cooperation Agency
Método e coordenação do estudo foram feitos pelo perito
Equipe técnica conforme listada no final do relatório
RELATÓRIO IPT 22.482, DE 28 DE AGOSTO DE 1985
O prof. Tsujimoto, docente da universidade de Nagoya, JPN elaborou o projeto de cooperação suportado pela JICA e ABC – Associação Brasileira de Cooperação do governo federal do Brasil.